10 ANOS SEM ARIANO SUASSUNA AUTOR DE “O AUTO DA COMPADECIDA”
Ariano Suassuna: O Legado Imortal de um Mestre das Artes Brasileiras
Nascido em 16 de junho de 1927, em Paraíba do Norte (atual João Pessoa), Ariano Vilar Suassuna deixou uma marca indelével na cultura brasileira como intelectual multifacetado. Além de escritor, foi filósofo, dramaturgo, romancista, artista plástico, ensaísta, poeta e advogado. Sua vida e obra são um testemunho da riqueza e da diversidade da cultura nordestina.
Suassuna é amplamente reconhecido como o idealizador do Movimento Armorial, uma iniciativa que buscava criar uma arte erudita a partir das raízes populares do Nordeste brasileiro. Esse movimento influenciou profundamente várias formas de expressão artística, incluindo música, dança, literatura, artes plásticas e teatro.
Entre suas obras mais célebres, destacam-se o “Auto da Compadecida” (1955) e o épico “Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta” (1971), que exploram com maestria o folclore e a cultura popular do Nordeste, conquistando tanto o público quanto a crítica.
Além de sua prolífica carreira como escritor e dramaturgo, Ariano Suassuna também desempenhou um papel significativo na administração pública, tendo ocupado cargos como Secretário de Educação e Cultura do Recife e Secretário de Cultura de Pernambuco, onde deixou um legado de promoção e preservação da cultura regional.
A tragédia pessoal de Suassuna, marcada pelo assassinato de seu pai durante um período conturbado da história política brasileira, também foi um tema recorrente em sua obra, refletindo sua busca por justiça e sua crítica social através da arte.
Ariano Suassuna faleceu em 23 de julho de 2014, deixando um vazio irreparável no cenário cultural brasileiro. Sua contribuição para a literatura e para a identidade cultural do Brasil é inestimável, e seu legado perdura através de suas obras imortais e do impacto duradouro do Movimento Armorial, que continua a inspirar artistas e pensadores até os dias de hoje.
Aqui poema criado pelo poeta Marcelo Girard inspirado na obra de Ariano Suassuna
– MANEL BERRA-BOI –
Muita boa noite!
Meu nome é berra-boi.
Sofrido de açoite
Vou contar como é que foi
Que cheguei no Rio de Janeiro
Quase trinta de fevereiro.
Quando aportei
Fui logo parar na tal favela
Num é que reparei que tinha mais paraíba
Que bandido nela…
Como bom sertanejo
Sem dinheiro e muito gracejo
Aluguei um barraco
Fazido de taubua de buraco.
Com as miudezas da economia
Comprei um pacote de bananada
Pra ganhar um faz me ria.
E pertinho da noite, escuriando o tempo,
Conheci um rabo de saia
Que me deu um alento!
Ô mulher arretada sô!
Arrebentou minha fimose.
Me deu um arreio de dor
Mas que preta, que lordose!
Morena flor, assim queu chamava ela.
E ela verbalava
— Te amo minha anta!
Arruma a casa, lava as panelas, faz a janta.
oxi ! Essa mulher é uma santa!
Fui indo e avivendo.
Pois, pois, montei uma barraquinha de doce.
Um dia, um frangote, um fedelho
Como se fosse dono do pedaço
Mandou eu vender um troço
Pra deixar o olho vermelho.
Na primeira vez que fiz a venda gritei:
— Ó meu Padim Ciço, que é que eu fiz?
O homem pegou a farinha e botou no nariz.
O moço saiu gritando todo feliz.
Eu disse: Arre égua!
O homem virou baitola, soltou as prega!
Depois me dei conta
Que tudo que é carioca
Gosta da tapioca que deixa tonta
Ai, me assosseguei, sabe.
Comecei a vender muitcho.
Só parava carro bonito
E filho de rico.
E minha mulher sempre dizendo:
— Homem… Riqueza nesse negócio
É quando o outro tá morrendo.
Tô ganhando, Tô vivendo.
Fui pro boteco tomar umas pinga
De susto chegou a puliça.
— Pronto! Vou perder meu ponto!
Pra que eu saí da minha terra
Pobre em qualquer lugar se ferra.
Punhei o resto no bolso
Pra garantir a semana
Fiquei feito caçamba sem poço.
— Jerimum tu tá em cana!
— Bebo não seu moço.
— Palhaçada Paraíba!
Perdeu, passa a grana!
— Aí que foi me entortei de vez
Saí correndo até a sombra se perder.
Meteram o pipoco, corri feito louco.
E roguei:
— Me livrai dessa. Nossa Senhora do Sufoco
Que serei teu da raiz até o coco.
Num repente, credo em cruz.
Desceu uma luz… Do céu
Uma voz dizendo:
— Não tá na tua hora Manuel.
— É isso mermo que eu tô vendo?!
— Sim, sou eu, volta pro teu corpo.
Tá cheio de ―inocente‖ aqui no beleléu.
Meti os cambitos e aqui tô eu.
Muito prazer, Manel Berra-boi.
Já tive no céu
Mas, não sei como foi.