A Obra-Prima de Augusto Branco que transforma poesia em Universos
Do Éden ao Metaverso: a jornada lírica que redefine o que a poesia pode ser
Por: Manuel de Freitas
Faltam adjetivos para descrever a experiência de ler Calíope, de Augusto Branco (publicado pela editora Clube de Autores). Mais que um livro, esta leitura é uma experiência alquímica. Em ‘Calíope’, Branco funde amor, filosofia, humor e ciência em versos que ardem como fogo e iluminam como estrelas. É o tipo de obra que faz ver o mundo, a vida e a si mesmo de outra forma.
Calíope não é um livro de poesia: é um universo em versos, onde cada capítulo é uma constelação de sentimentos, filosofias e revoluções íntimas. Augusto Branco escreveu uma obra plural e cósmica, que vai do épico ao íntimo, do sensual ao metafísico, como um mosaico das múltiplas faces da existência.
Branco domina a simplicidade profunda e a complexidade acessível, como nos labirintos quânticos de Cirse. Seus versos são pontes: ligam o cotidiano ao cósmico, a dor à transcendência, o corpo ao infinito.
Calíope reflete o leitor. Quem busca autoajuda sem clichês encontrará em Athena conselhos lapidares. Quem deseja erotismo com profundidade se perderá em Eros. Quem anseia por respostas existenciais será desafiado por Cirse. E quem só quer rir da vida será acolhido por Euphrosyne.
Cada capítulo, batizado com o nome de uma divindade grega, é um arquétipo vivo, tal como resumido a seguir.
O UNIVERSO DAS DEUSAS DE CALÍOPE
Os poemas do capítulo Calíope são joias de sensibilidade e sabedoria, onde Augusto Branco funde eloquência e introspecção com maestria e sintetiza a profundidade filosófica que permeia a obra, convidando o leitor a refletir sobre a essência da existência humana.
Afrodite é um convite à profundidade do sentir, onde o amor se revela em suas múltiplas facetas — do desprendimento ao desespero. O delicado paradoxo de “Ruínas da Amizade”: lembra que o amor verdadeiro deixa marcas eternas, mesmo quando se fragmenta, e neste ritmo o poeta nos conduz numa jornada lírica que celebra a entrega absoluta e a resiliência do afeto, mesmo nas ruínas. Uma poesia que não apenas emociona, mas transforma.
O capítulo Eros é um incêndio controlado de desejo e devoção, onde a paixão se revela tanto em versos ardentes quanto em sutilezas hipnóticas. Em “Completamente”, o verso “Louca mente que me faz querer inexplicavelmente / estar sempre ao lado teu” captura a essência do eros: uma fusão de corpo e alma, onde o ímpeto carnal e a entrega emocional se confundem. Eros é um tributo à volúpia e à vulnerabilidade do amor, onde cada poema oscila entre o tórrido e o terno. Branco transforma o desejo em arte, provando que o fogo do eros não queima; ilumina.
Perséfone é um jardim lírico onde Augusto Branco cultiva a pureza do amor em versos que oscilam entre a doçura ingênua e a saudade que dói sem cicatrizes. Com delicadeza de pétalas e espinhos, Perséfone revela o amor em sua forma mais pura: ora como promessa (“E Se…”), ora como ferida (“Poemas Bobos”), mas sempre como ato de resistência poética. Em Perséfone, o poeta faz uma celebração do feminino como força natural, sensível e eterna.
Já Euphrosyne é um banquete de irreverência e sagacidade, onde Augusto Branco desfia a vida com humor ácido e ironia afiada. Em “Gracejos de Euphrosyne”, o aforismo “Mulheres são em tudo tão encantadoras e apaixonantes / que é quase um pecado ter só uma” captura o espírito do capítulo: uma celebração despretensiosa das contradições humanas, onde o riso é a forma mais sábia de lidar com as dores do mundo. Com versos deliciosamente cínicos como “Sexo é maravilhoso. / O amor é que fode tudo” e tiradas que misturam Oscar Wilde e stand-up, Euphrosyne prova que a leveza pode ser filosófica. Branco transforma frustrações em piadas e clichês em epifanias, lembrando-nos que rir é o único antídoto contra a própria idiotice.
Athena, por sua vez, é o farol filosófico da obra de Augusto Branco, onde a poesia se veste de sabedoria para iluminar os labirintos da alma humana. Com ares de oráculo moderno, o poeta funde ética, resiliência e autoconhecimento em versos que são ao mesmo tempo espelhos e martelos — quebram ilusões para revelar verdades cruas. Em “Superação”, seus versos ecoam como um chamado à coragem de levantar-se mesmo quando o chão desaparece. Athena é um tratado poético sobre a arte de guerrear contra si mesmo e vencer. Mas Branco não oferece respostas fáceis, o que ele oferece são armas de lucidez para quem ousa encarar a própria sombra.
Por fim, Cirse é o véu rasgado da obra de Augusto Branco, onde poesia e cosmogonia se fundem em versos que desafiam a matéria e o tempo. Neste capítulo final, o poeta transfigura-se em xamã digital, conduzindo o leitor por labirintos cósmicos onde a ciência, a magia e o mistério dançam sob a luz de um sol que é tanto partícula quanto metáfora. Em “Iniciação”, o convite revela o propósito deste livro: um chamado à expansão da consciência além dos limites do humano. O conto “As Lágrimas de Deus” — onde a chuva é divindade em colapso emocional — revela o gênio narrativo do autor que consegue fazer um mito caboclo dialogar com a teoria holográfica do universo. Cirse, portanto, é um oráculo pós-moderno: mistura física quântica com lágrimas de avó, algoritmos com alquimia. Neste capítulo, Branco não escreve poemas; ele escreve profecias em forma de versos para uma humanidade à beira da singularidade.
Veredito Final
Calíope é a poesia do século XXI: ancestral e futurista, tátil e holográfica. Augusto Branco não escreve — conjura, como um verdadeiro mago das palavras, e nos convida a fazer o mesmo: transformar caos em versos, dor em sabedoria, perguntas em revolução.
Nota: ★★★★★ (Não há estrelas suficientes no céu de Cirse para este livro.)
Calíope, de Augusto Branco, é um livro que já nasce clássico – e se o poeta diz que “cada um oferece o que transborda de dentro de si”, então Augusto Branco transborda universos.